“Você tem certeza?”. De acordo com a Diretora Jurídica e de Assuntos Legislativos do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado de São Paulo (SASP), Angela Silva, essa é a principal pergunta do dia a dia da mulher dentro do mercado de arquitetura e urbanismo. A frequência do questionamento surgiu durante a live “Trabalho e o Campo de Atuação da Arquitetura e Urbanismo”, realizada na quarta-feira (09/03) pela entidade, que procurou debater os desafios, o combate à misoginia e as diferentes áreas de atuação a serem exploradas pelas mulheres. O encontro faz parte das ações pelo 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e ainda contou com a participação da Diretora de Estudos, Pesquisas Técnicas e Desenvolvimento Profissional Adjunta do SASP, Daniella Farias Scarassatti, e da Diretora de Relações Institucionais e Políticas Públicas, Marineia Lazzari Chiovatto. É possível conferir o debate completo no canal do YouTube do Sindicato.
É consenso entre as profissionais que é uma rotina dentro do mercado de trabalho de arquitetura as mulheres terem sua autoridade questionada. “Temos que nos defender o tempo todo. Seja as nossas ideias, seja o nosso conhecimento técnico. Estamos sempre correndo atrás de formação e capacitação e, ainda assim, precisamos convencer de que estamos certas”, destaca Daniella. A explicação está por trás do fato de vivermos em uma sociedade patriarcal, que estimula as meninas a serem comedidas e a não disputarem os espaços de poder. Marineia explica que é possível ver essa realidade, inclusive, no dia a dia das cidades. “Somos ensinadas a sentar com as pernas fechadas e a ocuparmos o menor espaço possível, até mesmo em um transporte público, onde o homem, por exemplo, toma conta de 70% de um banco no ônibus”. A Diretora de Relações Institucionais do SASP ainda exalta que é preciso criar uma rede de apoio entre as mulheres e permitir que as mesmas se tornem protagonistas de suas carreiras.
Espaço para esse protagonismo não falta. Com o crescimento das ferramentas tecnológicas, as áreas da arquitetura e do urbanismo se tornam cada vez mais amplas. Angela destaca a necessidade de sensibilizar as mulheres a explorarem os diferentes campos de atuação e fazerem arquitetura além do projeto. Perícias, banco de dados, licitação, avaliação imobiliária, acessibilidade, patrimônio histórico e área ambiental – no que diz respeito ao meio ambiente e a construção de espaços – são apenas alguns dos campos atualmente disponíveis e, em muitos casos, ainda dominados por homens. As profissionais também levam ao debate o quanto a arquiteta pode ser agente de transformação. “Nossas trajetórias e nossas vivências nas cidades, enquanto mulheres, são fatores essenciais nesse trabalho voltado à moradia popular e ao desenvolvimento de territórios sociais”, afirma Daniella. De acordo com as profissionais, isso se dá em conta da vivência feminina enquanto mãe, trabalhadora e, em muitos casos, como responsável pelos espaços familiares, compreendendo que a função da habitação vai além da moradia.