A extinção de estatais que têm um forte comprometimento e atuação com políticas públicas vai gerar sérios prejuízos às populações de pequenas e médias cidades do Estado de São Paulo. Se aprovado, o Projeto de Lei 529/2020 do executivo que, entre outras medidas, prevê a liquidação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), vai abrir espaço para que a iniciativa privada passe a controlar o trabalho de estatais com grande expertise na realidade e carência das comunidades.
Entidades da sociedade civil do Estado de São Paulo estão mobilizadas pela reprovação do pacote do governo Doria que tramita em regime de urgência na Assembleia Legislativa. Uma dessas representações vem do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado de São Paulo (SASP), cuja diretoria acompanha de perto o desenrolar da proposta que põe em risco a manutenção das políticas públicas no âmbito da mobilidade urbana e da habitação popular. “Essas duas empresas, particularmente, têm um grande vínculo com a questão do planejamento urbano, e a extinção de ambas vai significar mais na frente a gerência dessas áreas por empresas que visam unicamente o lucro”, afirmou o presidente do SASP, o arquiteto e urbanista Marco Antonio Teixeira da Silva.
A EMTU é responsável pela gestão das empresas de ônibus intermunicipais em mais de 130 cidades de São Paulo e, além disso, atua na coordenação de corredores de ônibus e na política do transporte urbano. “Se a empresa acabar, esse trabalho passará a ser feito por uma empresa privada e conhecemos como funciona, cada uma vai atuar de uma forma diferente visando o lucro”, pontuou o presidente do SASP. Outro ponto destacado por Marco Antonio é sobre o papel fiscalizatório realizado pela EMTU, que passaria para a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). “A agência reguladora mal consegue cuidar dos pedágios, como vai gerir todo esse sistema?” questiona.
A possibilidade de liquidar também a CDHU suscita ainda mais preocupação, pois a empresa pública, fundada em 1949, hoje é a grande responsável pelo trabalho de regularização fundiária e reorganização de favelas no Estado, fazendo algo que muitos não fazem, que é o de promover a integração das comunidades com os bairros. “É uma verdadeira política urbana, com uma expertise que dificilmente encontraremos na iniciativa privada”, destacou o presidente do SASP. Segundo ele, se o PL for aprovado vai significar o desmonte do planejamento urbano paulista.
Além das áreas de mobilidade e habitação, o SASP chama a atenção para outra parte do conteúdo do pacote que está na Assembleia. Ele prevê a retirada de recursos de empresas e instituições que atuam com pesquisa e desenvolvimento nas áreas de saúde, medicamentos e saneamento, por exemplo. “Retirar recursos de empresas que produzem e geram conhecimento ao Brasil é temerário, especialmente se considerarmos que estamos em meio a uma pandemia e que, mais na frente, dependeremos de soluções que vêm do exterior. Esse cenário se mostra ainda mais preocupante”, afirmou o dirigente, reforçando que esta não é uma luta corporativa, mas sim, uma ampla frente de debate pela manutenção de políticas que beneficiem a população.
No pacote, também consta a extinção da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo – “José Gomes da Silva” – (ITESP), órgão vinculado à Secretaria da Justiça e Cidadania, e que faz o planejamento e execução das políticas agrária e fundiária do estado de São Paulo. A Fundação ITESP é responsável atualmente por 140 assentamentos numa área total de 153.539,52 hectares. A instituição presta ainda assistência técnica a 1.445 famílias quilombolas, em 14 municípios nas regiões do Vale do Ribeira, Vale do Paraíba e de Sorocaba. Além disso, o ITESP já entregou mais de 4 mil títulos de propriedade no programa de Regularização Fundiária Urbana e Rural.