Projetos de equipamentos e de moradia para a População em Situação de Rua, que visam ao bem-estar social, com a gestão conjunta do poder público, entidades da sociedade civil e movimentos sociais foram tema do curso de “Arquitetura para Pessoas em Situação de Rua”, realizado entre os meses de junho e agosto em oito cidades do Estado de São Paulo.
A formação, que foi possibilitada pela Associação Projeto Gerações, em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP), através de edital pelo termo de fomento 016/21, começou a ser gestada no Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de São Paulo (SASP) por volta de 2016, segundo a atual vice-presidente da entidade, Liana Oliveira. Na época, foi concebido o embrião e a base de conhecimento técnico para a sua concepção.
A proposta do curso envolveu a capacitação de estudantes de arquitetura e urbanismo e profissionais para a elaboração de equipamentos de apoio e moradias de transição para esse público, que carece de maior participação da categoria. A formação aconteceu em dois módulos: um introdutório e uma oficina de práticas projetuais em formato remoto, e contou com representantes do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) e Movimento Nacional de Luta em Defesa da População em Situação de Rua (MNLDPSR).
Um plantão permanente também foi realizado, dividido em duas etapas: conversa aberta com a população e o atendimento dos projetos desenvolvidos nas oficinas online.
“A gente realizou, com os representantes da rua, dez projetos nesses oito diferentes municípios”, conta Liana. “Houve um plano de escuta muito importante. A ideia do que é a arquitetura para a população em vulnerabilidade foi construída de forma colaborativa e transdisciplinar. Não havia somente arquitetos e estudantes, mas também assistentes sociais, advogados… Havia uma gama de outros profissionais, cuja troca permitiu que surgissem as ideias desenvolvidas”, explica a arquiteta.
Essas ideias envolveram o projeto de ações e estruturas voltadas à comunidade em situação de rua nas cidades de Campinas, Mogi das Cruzes, Ribeirão Preto, Santos, São Bernardo, São Carlos, São Paulo e São Vicente. “A iniciativa foi importante porque as estruturas existentes hoje são inadequadas. Na forma como um albergue funciona hoje, a pessoa não pode entrar com seu animal ou não há espaço para colocar o carrinho que ela usa para catar materiais recicláveis; a gente também pensou em como esses espaços poderiam ser administrados colaborativamente, com a capacitação da própria população para geri-los em conjunto”, relata. Isso foi construído, segundo Liana, a partir da necessidade que os próprios movimentos levantavam. “Desenhamos diversas questões sobre os equipamentos existentes e outros programas. A conversa foi desde a instalação, por exemplo, de bebedouros no espaço público, mobiliários urbanos, modelos de campings e moradia”, relembra.
A partir do curso, cada município envolvido elaborou diferentes propostas. “Em São Vicente, houve o projeto de uma ecovila e uma república; em Mogi, um centro pop (estrutura diurna que conta com diferentes serviços à população de rua), já que o existente não consegue atender a atual demanda. Em São Paulo, houve um projeto de camping e um centro de cultura e capacitação; em Santos e São Bernardo, foram levantados prédios abandonados que podem se tornar aptos para habitação”, exemplifica Liana.
De acordo com a vice-presidente do SASP, o melhor resultado, porém, foi que, após a conclusão do curso, “todos os grupos seguem se falando, os representantes de cada cidade estão juntos com esses grupos ainda discutindo o projeto, querendo colocá-los em prática”. Essa continuidade pode viabilizar e frutificar todo o processo que uniu profissionais de diferentes áreas de conhecimento, incluindo a vivência prática junto à População em Situação de Rua.