Em São Paulo, dos 61.311 arquitetos e urbanistas cadastrados no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil), 38.470 são mulheres. Os dados são um reflexo da situação em todo o país e, desde o primeiro levantamento realizado pela entidade, ainda em 2019, sobre a presença feminina na arquitetura, a participação das mulheres tem sido crescente e tende ainda a aumentar. Isso porque a pesquisa aponta que quanto menor a faixa etária, maior a proporção de mulheres. Atualmente, o CAU Brasil conta com 123.997 arquitetas (64%) e 69.446 arquitetos (36%).
Em 2020, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo elegeu a primeira presidente mulher da história a ocupar o cargo. Nadia Somekh era representante do estado de São Paulo e recebeu 19 votos para assumir a presidência da entidade. Na gestão anterior ela foi conselheira federal do e coordenou a Comissão Especial de Equidade de Gênero, além de propor o Programa “Mais Arquitetos”, para ampliar o trabalho de Arquitetura Social no Brasil.
Além do CAU, em setembro do mesmo ano, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) ganhou uma representante mulher, a arquiteta e urbanista Maria Elisa Baptista. Em quase um século de existência, esta é a primeira vez que uma mulher ocupa o cargo. Essas vitórias são bastante expressivas, mesmo em uma categoria majoritariamente feminina. Porém, apesar de serem maioria, mulheres arquitetas são historicamente pouco reconhecidas e representadas nas instituições e no mercado de trabalho.
Para a diretora do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de São Paulo (SASP), Luzineide Ramos, é notório entre as mulheres a dificuldade em assumir os cargos de liderança. “No SASP, as mulheres são maioria nos cargos de direção, mas nós precisamos assumir efetivamente essas posições que já existem”, expõe. A profissional acredita que assumir cargos de comando ainda é uma dificuldade muito presente no dia a dia das arquitetas. “Nós ainda temos muita dificuldade de ser reconhecida com os nossos projetos e nossas experiências”.
Apesar da quantidade expressivas de mulheres, segundo Luzineide, a arquitetura ainda é um mercado muito masculino. E isso é um problema que precisa ser resolvido. No entanto, com essas mudanças na composição das diretorias nas principais entidades, é possível ver uma luz no fim do túnel. Para ela, a questão de raça, de renda e geográfica também são questões que permeiam a discussão de gênero.
Luzineide é uma mulher nordestina do interior de Pernambuco que sentiu na prática as dores do preconceito e discriminação. A arquiteta explica que a luta por mais representatividade feminina é diária e nunca acaba. Aos 68 anos, ela assume que as mulheres já ocupam bastante espaço no mercado de trabalho, mas ainda falta muito a ser debatido, vivido e conquistado.Em alusão ao 8 de março, o SASP, ao lado da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), participa de uma live para discutir a trajetória feminina dentro do campo da arquitetura e do urbanismo. Reunindo diferentes representantes sindicais ao redor do país, o bate-papo acontece pelo Canal do YouTube da FNA, a partir das 19h. Representando a entidade, a Diretora Relações Sindicais e Institucionais do SASP, Marineia Lazzari, participa da discussão. “A presença e a atuação das mulheres dentro da arquitetura e do urbanismo é um compromisso antigo do nosso sindicato. Queremos trazer à pauta discussões como desigualdade salarial, disparidade de gênero e os desafios enfrentados pelas arquitetas ao longo da profissão”.