A Semana de Arte Moderna de 1922 é, ainda hoje, objeto de estudo para artistas e pesquisadores que refletem sobre os processos artísticos propostos pelos primeiros modernistas, também chamados de modernistas canônicos. Apesar de a Semana de 22 ser considerada um marco – senão transformador, mas simbólico – para os diversos campos das artes, existem poucos registros da influência do evento no campo da Arquitetura e Urbanismo no Brasil.
A Semana, que aconteceu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 no Theatro Municipal da cidade de São Paulo (SP), contou com a participação de dois arquitetos: o espanhol Antonio Garcia Moya e o polonês Georg Przyrembel. Seus trabalhos, entretanto, tinham pouca afinidade com o então desconhecido modernismo. Se o evento não pôde dar o pontapé inicial do movimento na Arquitetura, o discurso e o testemunho daquelas artes, afinados com as vanguardas europeias, não podem ser esquecidos. Afinal, foi na Semana de 22 que aconteceu o primeiro contato com as ideias modernistas.
Anos mais tarde, o movimento moderno da arquitetura no Brasil tomou corpo. Em 1925 apareciam os primeiros artigos a respeito, feitos com vinculações fortes com as vanguardas europeias. Em 15 de outubro de 1925, o brasileiro de origem italiana e estudante da Escola Superior de Arquitetura de Roma, Rino Levi, divulgou o manifesto “A Arquitetura e a Estética das Cidades”, publicado no Estado de São Paulo. O artigo foi o primeiro publicado no Brasil. Duas semanas depois, o jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, publica um texto em português de Gregori Warchavchik, atingindo um público ainda maior.
“Podemos afirmar que o modernismo na Arquitetura começou textual e conceitual, e não um projeto construtivo”, explica o Diretor Adjunto de Assuntos Jurídicos e Estudos Legislativos do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado de São Paulo (SASP), Victor Chinaglia. Ele é um dos autores do livro “Mosaico 22”, que reúne diferentes autores para falar sobre as manifestações artísticas que aconteceram na Semana de Arte Moderna Brasileira. Chinaglia, que aborda sobre a arquitetura da época, assina o texto “Arquitetura e Urbanismo dos Modernos – A Pauliceia Desvairada”.
De acordo com o arquiteto, o suporte para o papel em branco do escritor, a tela virgem do pintor e a pena limpa do poeta foram muito mais rápidos e de fácil acesso do que a plataforma de atuação dos arquitetos e urbanistas do início do século XX. Mas, destaca que com certeza esse encontro, que nasceu em 1925, deixou marcas indeléveis em nossa arquitetura e urbanismo. “Da casa indígena até Brasília, esse caminho foi pavimentado pela Semana de 22”, afirma Chinaglia. Para ele, através dessa relação sem conflitos, a arte convive simbioticamente com a Arquitetura e o Urbanismo a ponto de, em alguns momentos, ser possível distinguir quem é o suporte: a arquitetura, o urbanismo ou a própria arte.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil